Sede Infinita De Não Sei O Quê

Hoje eu acordei triste
porque era primeiro de Dezembro
porque era primeiro de Dezembro de 2012
porque eu já existo há muito tempo
e esse peso nos ombros não alivia
mesmo com todos dizendo que
eu-não-vi-nada-da-vida.

Hoje eu acordei triste e
tentei procurar minha tristeza
numa música qualquer.
Vasculhei Los Hermanos, Cartola, Cazuza
Chico, Vinícius de Moraes, Toquinho
Caetano Veloso, Tom Jobim e até nas letras do Caio.
Mas ninguém achou,
só sabem das suas primas:
são fumacinhas, argolas de fumaça
nuvem que sai do céu da boca
e vai pro céu de todo mundo.

(A minha tristeza deve ser
o ventinho que vira
a folha do jornal do velhinho sentado
na praça, atrapalhando
sua leitura.)

Hoje eu acordei triste
uma tristeza-marasmo banhada
a angústia e outras mil aflições.

Pensacomigofingequesoueu
eentranomeueu
sóporummomento.

Tenta ouvir
bai
xi
nho
eunãoseidenadanofimdascontas.

ninguémsabedenadanofimdascontas.

Nem você.

Esse marasmo de tristeza grudou
no teto do meu quarto,
fez amizade com as aranhas
e agora mora em suas teias.

Hoje eu acordei triste
e fiquei mais triste ainda
quando vi o Drummond dizer:
“amar a nossa falta mesma de amor“.
Eu não posso concordar com você, Senhor.
Eu não quero amar falta nenhuma.
Essa falta aqui no peito
não deixa meu corpo ficar ereto,
ele cai se não tiver ossos de amor.
Não posso amar a falta.
Tira isso do seu poema.

Tô mais triste ainda
que o Drummond já morreu.

Disseram que eu devia me segurar
na cauda de lembranças boas
e sair voando por aí.
Mas o que posso fazer
o que posso fazer, meu Deus
se eu sei que vou cair entre
essas curvas do cérebro
que guardam a melancolia
de momentos bons que chegaram ao fim?

Hoje eu acordei triste
porque sei que existem muitas curvas com fins,
e no final são muitos fins
muitas ruas sem saída.
Tenho medo de sair
caminhando por aí de madrugada,
dar de cara com uma dessas,
e não saber voltar.

Hoje eu acordei triste
porque me acostumei com essa tristeza.

Não que ela me incomode,
não que ela faça barulho,
ela mal atrapalha meu sono.
Na verdade, ela anda cabisbaixa
porque sabe que descobri seu nome:
Sede Infinita De Não Sei O Quê.

Agora ela fica quietinha
de vez em quando puxa
a barra da minha saia
como uma criança que
acaba de ser descoberta e
pede um pouquinho de atenção.

Eu disse:
“Fica calma, dorme aqui no peito“
E enquanto ela dorme
vou atrás da água que ela bebe,
e mesmo que eu nunca encontre
de sede não morrerá.

A minha busca a alimenta.

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3 Respostas para “Sede Infinita De Não Sei O Quê

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  2. “Eu não quero amar falta nenhuma.
    Essa falta aqui no peito
    não deixa meu corpo ficar ereto,
    ele cai se não tiver ossos de amor.”

    "Tenho medo de sair
    caminhando por aí de madrugada
    dar de cara com uma dessas
    e não saber voltar."
    (Muito eu)

    Sede infinita de não sei o quê. Conheço bem até demais. :c

  3. Eu sei como é, ter sede de um desejo que aqueça o coração.
    Aquilo que lhe trás um sorriso no café da manhã, e te leva pela mão,
    Um passear de almas por um lugar sem tempo, que passa sem pressa
    De um infinito especial são feitas as felicidades, um tipo que cessa
    Que deixa um eco no espaço oco do peito, uma não tão rara nostalgia
    Um vazio que até pode ser preenchido, mas acaba por vazar a alegria
    No final das contas os que sabem contam, que não é preciso contar
    Que o vazio é fácil de ser preenchido, que basta apenas amar
    Mesmo que um dia volte o olhar e veja que tudo terminou
    No final das contas há de se contar o que importa, que você amou

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