#urb1

o céu ainda é maior
nessa cidade que é
acaso-encontro e
desencontro

aqui e ali, encontro
ideias prum ponto
que vejo todo dia
igual
mas nunca o mesmo

uma vontade
de riscar de leve
por cima

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água viva

tu me deixou com antipatia e tristeza
pelo mar
e eu me pergunto
que tipo de pessoa
consegue fazer dele
algo tão indesejável

apaguem todas as fotos
que o retratem
tirem os filmes
e quadros
da minha frente

peça pro motorista
fazer o caminho
de volta pra casa
entre asfalto, carros
e avenidas

porque eu não quero
passar nessa areia
eu sequer aguento
sentir essa brisa salgada
sem querer vomitar

tudo aquilo de você

que ficou engasgado
na garganta,
grudado nos cabelos
e na pele
como um cheio podre
impregnado num tecido

todas as angústias
que por anos silenciei
que por anos fingi
não estarem ali
que por anos me fizeram
ser a louca de nós dois

afinal sempre tem alguém
pra ser o louco da história

guardei a loucura
na garganta
esperando a chance de vomitá-la
bem verde, ácida e fedorenta
na primeira sarjeta
da nossa rua
que eu nunca mais
vou passar

e junto com ela
foi todo o alfabeto
que você transformou
em palavras esdrúxulas
e cheias de clichê,
cheias de significado
que você não queria dizer

cheias de mentiras
que só uma boa
faculdade direito
saberia ensinar a
revertê-las na mais
absoluta verdade

pensando bem,
passa pela praia sim.

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A luz das 17h

A luz de domingo tava incrível, eu olhei as paredes e elas estavam iluminadas de tons rosados e eu pensei “de onde vem essa luz?” e a luz vinha de fora da janela, eu pensei comigo mesma ainda bem que a cidade muda de cor de vez em quando e eu dizia pras pessoas que estavam comigo gente olha essa luz e elas olhavam e voltavam pro que estavam fazendo e eu gente como assim, não dá pra abandonar essa luz! Fiquei ali um bom tempo olhando pra ela, pensando que todo mundo devia me achar uma tola falando o que falava e dando tanta atenção pra uma mudança comum no céu, mas é que naquele instante das 17h e eu não lembro em qual segundo foi, eu achei aquela luz a coisa mais incrível dos últimos dias que estavam tão despercebidos – passavam vagarosamente e eu fazia o que precisava fazer mas era como se não tivesse feito, eu saía da cama mas era como se não tivesse acordado, eu tomava banho mas era como se meu corpo não sentisse a mudança de temperatura da água – e aí, no dia mais improvável de felicidade humana, ela veio, no finalzinho da tarde: toda linda no céu e pintada de rosa. Fiquei boba, voltei a ficar boba.

18.07.JPG

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18 de julho de 2017 · 21:25

por fora do movimento da vida

ao som de i don’t wanna dance-lady linn

durante dezenove
horas contadas
a fio
trinta e oito quilos
estavam nas minhas
costas e dezessete
na cabeça

girando

em ângulos que não estão
no transferidor.
até parar perto
da cama onde
eu e você
éramos
nus.

nós não tínhamos
medo do agora
e a ilusão de controlar
o tempo com as mãos
cabia nos dias
que nunca viriam,
nos dias que nunca virão…

os mesmos que estão
num beco qualquer
no centro da cidade.

qualquer dia
eu volto lá
e apago
um
por
um.

 

 

 

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vila indiana

corredores sem tamanhos
ideais pra circulação
tampouco cores
que recebam o sentir
ao esticar a perna
no sofá da sala
depois de um dia cansativo.

tampouco cores
e paredes
delimitando o que é
sala e o que não é
fizeram todas
as réguas
e regras
quebrarem-se sozinhas
quando o sentir
da segurança de lar
foi muito mais além
que medições mínimas
e leis da gestalt.

nessas paredes quebradas
e nesses olhos embriagados
e vermelhos que disseram
“a vila precisa de vocês”
se traduziu um horrível:
a cidade não foi feita pra pobre.

vila indiana - tijuca, rj

vila indiana – tijuca, rj

(impressões sobre a vila indiana, sobre o enea rio e sobre a sensação que fica depois)

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sobre seus olhos enormes, escuros, redontos e tristes

baby,
tem dias que
os dias são
mesmo meio
cinzas,
e não há sol
lá fora ou
aqui dentro
que aqueça
o nosso
peito.

poderia te
fazer um café,
pra enganar o sufoco
ouvindo aquele
som deitados no colchão
que a gente tanto gosta.

mas dessa solidão
eu já tenho diploma,
rotineira que só…

… e ela só vai embora
quando vivida cuidadosa
e intensamente
como
tem
que
ser.

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contrato falso

eu aceito
teu beijo ácido
pra desfazer o nó
da minha garganta

molho teus dedos
com meu
prazer
e até finjo
um querer menos
sincero

desfaço todos
os seus eus
da rotina cansada
de dias parados

(que não cansam
de repetir
e fazer eco
e muros
na minha casa sempre
de portas abertas)

só não aceito
esses olhos
de quem diz
o que não queria
dizer…

mas continua dizendo.

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IV língua

a cada silêncio grito que
queria
tocar
todas
as
suas
células

e tento em todos os ritmos formas texturas cores músicas chegar onde ninguém chega

mas sempre quebras minhas pernas em quatro pedaços sangrentos cada vez que quase te alcanço

e de novo insisto
em
todos
os
abraços
signos e
tragos
tocar

onde ninguém
toca…

… e agora foram os meus braços.

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III – pele

[II – cheiro]

a minha saudade
tem nome, sobrenome
e endereço.
deixou minhas mãos com alergia
e hoje nem no bolso
eu carrego mais.

a minha saudade tem
cor, sexo e textura.
qualquer beijo
não basta pra ser
toque
e qualquer pele
não supre a vontade
de findar unhas nas palmas
até sangrar.

a minha saudade
pegou um ônibus
pra uma cidade que
eu não conheço
a rota, as horas e nem

se volta

pra pegar o eco dela
que fica fazendo
sombra
na luz amarela
do meu quarto
às uma e pouca
da madrugada.

a minha saudade é
como aquela sensação
de amputar um membro
do corpo por pura
e espontânea vontade
e sentir falta dele
mesmo assim.

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(des)conforto

você finge que
nada aconteceu
e eu finjo que
nada aconteceu
e de fato
nada aconteceu
porque nem lembro mais
do que a gente
não tava falando.

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